“Durante os últimos anos da Segunda Guerra Mundial e nos primeiros anos do Pós-guerra, centenas de milhares de soldados americanos estiveram colocados na Grã-Bretanha, ou passaram por lá, o que facultou uma oportunidade única de estudar os efeitos de uma penetração em larga escala de uma cultura por outra. Um dos aspectos interessantes foi uma comparação entre padrões de namoro. Tanto os soldados americanos como as raparigas britânicas se acusaram mutuamente de serem sexualmente atrevidos. Investigações acerca desta dupla acusação curiosa revelaram um problema interessante de comunicação. Em ambas as culturas o comportamento do namoro desde a primeira troca de olhares até à consumação final consistia em cerca de 30 etapas, mas a sequência dessas etapas era diferente.
Por exemplo, o beijo era uma das primeiras etapas no padrão norte-americano (ocupa, digamos, o quinto lugar) mas é uma das últimas do padrão britânico (podemos dizer a vigésima quinta etapa) no qual é considerado um comportamento altamente erótico. Por isso, quando um soldado americano achava que era a altura de dar um beijo inocente, a rapariga não só achava que ele tinha saltado 20 etapas daquilo que ela considerava uma relação como deve ser, como sentia que tinha de tomar uma decisão rápida: ou acabava com tudo e fugia, ou preparava-se para ter relações sexuais. Se escolhia a segunda hipótese o soldado via-se confrontado com as suas regras culturais, só poderia ser considerado como desavergonhado num estado tão inicial da relação”.
PaulWatzlawick (1991), A Realidade é Real?, Relógio d`Água
PaulWatzlawick (1991), A Realidade é Real?, Relógio d`Água
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