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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Dose certa

Procuro a
minha dose.
Quanto sou?
Que espaço ocupo?
Que tempo tomo?
Às vezes, sou demais,
quase veneno.
Encho com excessivas
palavras.
Melhor fora ser
silencioso solvente.
Outras vezes
devia ser mais presente.
Mais soluto.
Mais concentrado.
Sou micro-escala
quando deveria
gritar ao mundo
toda a injustiça.
Meu sonho?
Ser tónico, não tóxico.
Procuro a
minha dose,
a dose certa...















João Carlos de Matos Paiva

Professor Auxiliar com agregação no
Departamento de Química (Secção de Educação),
da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

http://www.jcpaiva.net/

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Hoje oferecemos as palavras de Alexandre O'Neill


Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill (1924-1986), in 'No Reino da Dinamarca'

quarta-feira, 21 de março de 2012

Dia Mundial da poesia


UM POEMA

Não tenhas medo, ouve:
... É um poema.
Um misto de oração e de feitiço
Sem qualquer compromisso.
Ouve-o atentamente
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar,
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza
Na segura certeza
De que não te faz mal
E pode ser que te dê paz

(Miguel Torga, Diário X)

Dia Mundial da Poesia

«Um poema ou uma árvore podem ainda salvar o mundo.»
(Eugénio de Andrade)

Dia Mundial da Poesia é uma bela razão ler e reler Pessoa (com todas as pessoas que nele vivem), Eugénio, Sophia, Torga, Manuel Alegre, Herberto e outros tantos daqueles que me fazem companhia todos os dias. Como sempre, aliás!

sexta-feira, 16 de março de 2012

Let us go...

«Let us go then, you and I,
When the evening is spread out against the sky
Like a patient etherised upon a table;
Let us go, throw certain half-deserted streets,
The muttering retreats
Of restless nights in one-night shep hotels
And sawdust restaurants with oyster-shells:
Streets that follow like a tedious argument
Of insidious intent
To lead you to an overwhelming question...
Oh, do not ask, 'What is it?'
Let us go and make our visit.»

In T. S. Eliot,
The Love Song of J. Alfred Prufrock

quarta-feira, 7 de março de 2012

Dia 8 de março - Dia internacional da Mulher


Por Amor...

«Agora preciso da tua mão,
não para que eu não tenha medo,
mas para que tu não tenhas medo.
Sei que acreditar em tudo isso será,
no começo, a tua grande solidão.
Mas chegará o instante em que me darás a mão,
não mais por solidão, mas como eu agora: por Amor”.»

(Clarice Lispector)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Na Noite Terrível

«[...]
Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;
O que só agora vejo que deveria ter feito,
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido —
Isso é que é morto para além de todos os Deuses,
Isso — e foi afinal o melhor de mim — é que nem os Deuses fazem viver...

[...]

Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei.
Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?
Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.
Enterro-o no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos.
Nesta noite em que não durmo, e o sossego me cerca
Como uma verdade de que não partilho,
E lá fora o luar, como a esperança que não tenho, é invisível p’ra mim.»


Álvaro de Campos
"Na noite terrível"

Lágrima

«Há lágrimas nos teus olhos
e oiço sem querer o meu povo chorar:
soubesses tu que tudo o que me dizes
é a sombra do que não me podes dar.»

Carlos de Oliveira

domingo, 19 de fevereiro de 2012

A Curva dos Teus Olhos


A curva dos teus olhos dá a volta ao meu peito

É uma dança de roda e de doçura.
Berço nocturno e auréola do tempo,
Se já não sei tudo o que vivi
É que os teus olhos não me viram sempre.

Folhas do dia e musgos do orvalho,
Hastes de brisas, sorrisos de perfume,
Asas de luz cobrindo o mundo inteiro,
Barcos de céu e barcos do mar,
Caçadores dos sons e nascentes das cores.

Perfume esparso de um manancial de auroras
Abandonado sobre a palha dos astros,
Como o dia depende da inocência
O mundo inteiro depende dos teus olhos
E todo o meu sangue corre no teu olhar.

Paul Eluard, in Algumas das Palavras,
Tradução de António Ramos Rosa

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Dose de fatia de um doce


Dose de fatia de um doce
Dá-me um bocadinho do teu amor todos os dias
não mo dês todo hoje que amanhã vou precisar dele outra vez
eu sei conheço-me bem
e nesse aspecto sou exactamente como o resto da humanidade
preciso de ser amado todos os dias
só espero não morrer muito velhinho para que o teu amor me
[dure até ao fim da vida
in «o cheiro da sombra das flores» de João Negreiros

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Orgulho de tia...

«Criador de sonhos

Uma companhia das horas

Preenchidas ou vagas,

Trazem-nos poemas, histórias,

Presentes ou passadas.

Amigos sempre presentes,

Esperando nossa chamada.

Livros dançantes, contentes,

Poemas de estrofe rimada.

Somos invadidos por memórias,

Explodimos de sentimentos!

Lembramos nossas próprias histórias,

Revivemos uns quantos momentos.

Por vezes, trazem-nos tristeza,

Tocam-nos na alma.

Porém, fazem-no com delicadeza,

Ternura, calma…

São estes eufemismos

Que com suavidade

Nos mostram os abismos,

Numa outra realidade.

E os livros de romances?

Ora simples, ora com contrapartidas.

Oh! Amores platónicos,

Companhia de leituras sofridas!

E quando um livro é um poema?

Inundado de sentimento verdadeiro,

Qual exactamente? Um dilema…

Resposta tem o poeta,

Um sonhador a tempo inteiro.

E pergunto eu, conhecendo já a resposta,

Onde podemos encontrar tamanha harmonia

Senão pelas linhas de uma prosa,

Pelos versos de uma poesia?

São páginas cheias de vida,

Pelas mãos do ponderado escritor.

São sonhos da alma comovida,

Do poeta, um sonhador!»


Ana Luísa

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

«O poeta, sensível e até mais sensível que os outros homens, imolou o coração à palavra, fugiu da autobiografia, tentou evitar a vida privada. Ai dele, se não desceu à rua, se não sujou as mãos nos problemas do seu tempo, mais ai dele também se, sem esperar por uma imortalidade incompatível com a sua condição mortal, não teve sempre os olhos postos no futuro, no dia de amanhã, quando houver mais justiça, mais beleza sobre esta terra sob a qual jazerá, finalmente tranquilo [...].»

(Ruy Belo, na revista "Crítica", 1972)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Quando vier a primavera



Quando vier a primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria
E a primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro
1889-1915

Poesia
Alberto Caeiro; edição Fernando Cabral Martins, Richard Zenith
Assírio & Alvim

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sentimentos cansados

Use o poema para elaborar uma estratégia de sobrevivência no mapa da sua vida.
Recorra aos dispositivos da imagem, sabendo que ela lhe dará um acesso rápido aos recursos da sua alma.
Evite os atolamentos da tristeza e acenda a luz que lhe irá trazer uma futura manhã quando o seu tempo se estiver a esgotar.
Se precisar de substituir os sentimentos cansados da existência, reinstale o desejo no painel do corpo e imprima os sentidos em cada nova palavra.
Não precisa de dominar todos os requisitos do sistema: limite-se a avançar pelo visor da memória, procurando a ajuda que lhe permita sair do bloqueio.
Escolha uma superfície plana e deslize o seu olhar pelo estuário da estrofe, para que ela empurre a corrente das emoções para a foz. Verifique então se todas as opções estão disponíveis e descubra a data e a hora em que o sonho se converte em realidade, para que poema e vida coincidam...


Nuno Júdice

Encontrado no blogue “O que levaria para uma ilha deserta?”
http://ilhadeserta1.blogspot.com/2011/11/use-o-poema-para-elaborar-uma.html

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Se a adolescência fosse um poema seria...



Se a adolescência fosse um poema seria... Na minha opinião, "Cântico Negro" de José Régio (1901-1969).


E por que razão? A discutir na próxima aula de Formação Cívica.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O que é ser adolescente?

Finalmente, os alunos começam a despertar e fazer ouvir a sua voz…

Preto e Branco

Nunca está perto
Mal o vemos passar…
Hoje o céu está escuro;
Não temos por onde fugir!
Estamos num quarto, fechado,
Sem janelas, nem portas,
Sem luz, sem vozes…
Estamos fechados no nosso mundo,
Ocupados demais…
A reinar.
Estamos presos,
Em breve vai chover…
Raios chicotearão o nosso pensamento,
E trovões ecoarão na escuridão da nossa alma.

Mal respiramos…
Mal nos encaramos em frente ao espelho,
Sufoca-nos este peso de estar sozinho
Cega-nos esta escuridão,
Já não há cor que nos rodeie…
Não sei o que faço…
Não sei o que digo…
Só oiço:
“Vive”.
Mesmo que num mundo,
a preto e branco

Alma Negra
Sofia Faceira, nº23, 10ºF

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Gotas de poesia

Escada sem corrimão

É uma escada em caracol
e que não tem corrimão.
Vai a caminho do Sol
mas nunca passa do chão.
Os degraus, quanto mais altos,
mais estragados estão.
Nem sustos nem sobressaltos
servem sequer de lição.
Quem tem medo não a sobe.
Quem tem sonhos também não.
Há quem chegue a deitar fora
o lastro do coração.
Sobe-se numa corrida.
Correm-se perigos em vão.
Adivinhaste: é a vida
a escada sem corrimão.

David Mourão Ferreira

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Gotas de poesia

Construo o meu pensamento aos pedaços: cada
ideia, que ponho em cima da mesa, é uma parte do
que penso; e ao ver como cada fragmento se
torna um todo, volto a parti-lo, para evitar
conclusões.

Nuno Júdice (1949), ensaísta, poeta, ficcionista e professor universitário português.