“No verão de 1973, a menos de um ano da queda do regime, a polícia, nas cidades, e a GNR, na província, ainda detinham e puniam com coima, qualquer cidadão mais fogoso, que beijasse o seu par, diante de transeuntes. Os turistas manifestavam o seu carinho mais à vontade, mas podiam ser postos na fronteira, se a guarda considerasse que estavam a abusar da tolerância face aos estrangeiros.
O beijo na boca, entre cidadãos de sexo oposto, era qualificado de acto exibicionista atentatório da moral. E se sublinhamos, aqui atrás, “de sexo oposto”, é porque qualquer contacto físico homossexual constituía um crime muito mais grave e um beijo “à Hollywood”, na via pública, entre dois homens, ou duas mulheres, seria caso para processo em tribunal, com penas de prisão a doer. Mas isso estava fora de questão. Não se viviam tempos propícios à saída do armário, como é bom de ver. A homossexualidade era proibida, para além de ser considerada uma doença mental, tratada em manicómio. Levado para a esquadra, ou para o posto da GNR, o delinquente beijoqueiro era identificado, autuado em pelo menos 57 escudos (um valor variável, em função de critérios que hoje nos escapam; há quem tenha pago 60, 80, 100), e passava invariavelmente pela cadeira do agente-graduado-em-barbeiro, de onde saía de cabeça rapada, máquina zero”.
O beijo na boca, entre cidadãos de sexo oposto, era qualificado de acto exibicionista atentatório da moral. E se sublinhamos, aqui atrás, “de sexo oposto”, é porque qualquer contacto físico homossexual constituía um crime muito mais grave e um beijo “à Hollywood”, na via pública, entre dois homens, ou duas mulheres, seria caso para processo em tribunal, com penas de prisão a doer. Mas isso estava fora de questão. Não se viviam tempos propícios à saída do armário, como é bom de ver. A homossexualidade era proibida, para além de ser considerada uma doença mental, tratada em manicómio. Levado para a esquadra, ou para o posto da GNR, o delinquente beijoqueiro era identificado, autuado em pelo menos 57 escudos (um valor variável, em função de critérios que hoje nos escapam; há quem tenha pago 60, 80, 100), e passava invariavelmente pela cadeira do agente-graduado-em-barbeiro, de onde saía de cabeça rapada, máquina zero”.
António Costa Santos, "Proibido"
Sem comentários:
Enviar um comentário