terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Temos ou não controlo sobre aquilo que fazemos?

«(...) Imagina, por exemplo que te metes no carro e, antes de arrancares, percebes que a aba do teu casaco ficou presa na porta . O que fazes então? Abres a porta, ajeitas a aba, fechas a porta e arrancas. Perdeste cinco segundos neste processo. Quando chegares à primeira esquina, aparece um camião que te abalroa. Resultado, ficas paraplégico a vida toda. Agora imagina que não prendeste a aba do casaco na porta. O que acontece? Arrancas imediatamente o carro e chegas à esquina cinco segundos antes, não é? Olhas para a direita, vês o camião a aproximar-se, esperas que ele passe e depois prossegues a tua viagem. (...) Por causa da aba do casaco presa na porta do carro, perdeste cinco segundos que te vão fazer a diferença para o resto da vida.” (...) “Pequenas causas, grandes efeitos.”
“Tudo por causa de uma coisa tão pequena?”
“Sim. Mas atenção. Já estava determinado que tu irias prender a aba do casaco à porta do carro. É que vestiste mal o casaco de manhã. E vestiste-o mal porque acordaste mal disposto. E acordaste maldisposto porque dormiste pouco. E dormiste pouco porque te deitaste tarde. E deitaste-te tarde porque tinhas um trabalho para fazer para a faculdade. E tinhas esse trabalho a fazer por isto ou por aquilo. Tudo é causa de tudo e provoca consequências que se tornam causas de outras consequências, num eterno efeito de dominó , em que tudo está determinado mas permanece indeterminável. O próprio motorista de camião podia ter travado a tempo, mas não o fez porque viu uma rapariga bonita a passar e olhou para o lado. E a rapariga passou ali naquele instante porque se atrasou. E ela atrasou-se por causa de um telefonema do namorado. E o namorado ligou-lhe por isto ou por aquilo. Tudo é causa e consequência.»


José Rodrigues dos Santos, A Fórmula de Deus

1 comentário:

  1. Temos controlo sobre aquilo que fazemos...? A maioria das vezes estamos plenamente convencidos que temos...noutras alturas acreditamos em algo como o destino, intervenção divina, ingenuidade...
    Contudo, quando nos é permitido o livre arbítrio, somos o caminho que trilhamos, fazemos das nossas escolhas as certas, desdenhamos quem não as aceita e somos arrogantes ao ponto de pensarmos que temos o controlo das nossas opções. Eu sou o produto do meu mundo, e as minhas escolhas são pré-determinadas por políticas globalizantes que ditam as regras que nos tolhem os atos e os pensamentos...porém dou comigo a pensar que sou livre, consciente e autónoma, ou seja, que amadureci.

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