domingo, 15 de julho de 2012

É tempo de mudança...

«[…] o Homem é, por definição, um ser permanentemente sitiado e violentado. Violentado pela doença, violentado pelos regulamentos e pelas hierarquias, violentado pelos amigos e pelos vizinhos, violentado pelo amor, violentado por si próprio e, calculem, até violentado pela própria sombra.»


A. M. Pires Cabral,
no discurso da entrega do Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco

A atualidade de B. Brecht

A INDIFERENÇA

Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.
... Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.

Bertolt Brecht

domingo, 8 de julho de 2012

Ficção...talvez não?!...


«Uma enorme comitiva de economistas entrou nos aposentos centrais. Traziam um relatório gigante. Era o diagnóstico; o estado da economia do país ali estava, ao pormenor. Três meses de trabalho envolvendo mais de 32 mil economistas. Bem remunerados, mas era merecido: o relatório tinha mais de seiscentas páginas. E um índice. Foi no índice que o Chefe pegou.
- Isto ajuda muito. Facilita a consulta –... disse o Chefe, surpreendido.- Ajuda muito – concordou o Presidente da Comitiva dos Economistas. – O Chefe vê aqui o tema abordado e logo depois, uns espacinhos mais à frente, surge a página. - Excelente ideia!! – exclamou o Chefe.- Já tem sido utilizada noutros trabalhos de outras pessoas; mesmo fora da política. E até noutros países. Quando os relatórios são muito grandes a indicação das páginas onde cada tema é aprofundado permite que quem consulte o documento não perca muito tempo até encontrar o assunto que lhe interessa. O Chefe estava fascinado. Aquela questão do índice. Que ideia!! Estava bem rodeado, sem dúvida. Estes economistas!!»
 
(in "O índice", do livro "O Senhor Kraus",
de Gonçalo M. Tavares)