quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Os jovens e o emprego: Que futuro?

 

Com a finalidade de sensibilizar os alunos do ensino secundário para o tema da edição deste ano do Parlamento dos Jovens será realizada, no dia 6 de dezembro, uma sessão de esclarecimento sobre "Os jovens e o emprego: Que futuro?", que aqui se publicita.




quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Conto


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - O Velho



           por Pedro Luso de Carvalho
             

        CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE nasceu em Itabira de Mato Dentro, interior de Minas Gerais, a 31 de outubro de 1902. Deixou uma importante obra poética. Escreveu cronica nos anos de 1954 a 1968, para o Jornal carioca, Correio da Manhã, com o título geral de “Imagens”. Depois passou para o Jornal do Brasil, onde manteve uma coluna no Caderno B.
                  
        Dizia que a crónica é o meio de expressão que o colocava frente ao público; reconhecia, no entanto, o caráter efémero e perecível do género; e dizia: “Crónicas eu faço profissionalmente, poesias eu faço porque ninguém encomendou". No mês de setembro de 1984, Drummond abandonou a crónica, para cuidar de sua vida e para "ceder espaço aos mais jovens".
                 
        Segue a crónica de Carlos Drummond de Andrade, intitulada O velho (In Carlos Drummond de Andrade. Boca de Luar. São Paulo: Círculo do Livro, 1984, p. 64-67): 

                                             [ESPAÇO DA CRÓNICA]

                                                       O VELHO
                                                       (Drummond)

        
        Vocês não acreditam, mas também este cronista costuma ir ao Banco, e não só para pagar contas de luz, gás, telefone. Vai conversar com o Gerente - um gerente simpático, desses que não coçam a orelha quando a gente propõe uma reforma de título. Mas quem sou eu para pleitear tamanha mercê? Procuro o Gerente para conversar sobre amenidades, e ele me ouve com paciência e atenção. Até me conta coisas de seu filho, o Escritor. O Escritor tem três anos e escreve literalmente em todas as paredes da casa. Fareja livros com gravuras e sem gravuras e aprende coisas que eu, possivelmente, ignoro. A curiosidade intelectual do Escritor é insaciável. Assim fazemos do Banco, sem prejuízo dos interesses bancários (pois o Gerente é uma fera para trabalhar no meio das maiores apoquentações), um lugar de grato repouso.
        
        Ontem o gerente estava tão assoberbado de clientes, papéis, telefonemas, recados, que não tive coragem de me aproximar. Fiquei à espera na poltrona, ao lado de dois rapazes que também esperavam. Esperavam e conversavam sobre política, inflação, Copa do Mundo. 

        – E como vai teu velho?

        – Meu velho? Respondeu o outro. – Aquele vai sempre bem. Melhor do que eu, você e todo mundo.

        – Qual a última dele?

        – Não tem última. Todas são novas e contínuas. Aos sessent’anos – sessenta e lá vai fumaça – nada, corre, entra em pelada, monta, joga vôlei e só não rema porque não encontra companheiros com a mesma fibra, para disputar regata. Enquanto isso,  fuma e bebe.

        – E... no resto?

         – No resto ele é ainda de goleada. Parece mentira, mas as mulheres adoram o Velho, e ele capricha para dar conta do serviço.

        – Quantas vezes ele já casou?

         – Perdi a conta. Quatro ou cinco, se não me engano. Ou seis. O extraordinário é que nenhuma das ex se queixa dele, todas que conheço continuaram suas amigas e, de um modo ou outro, dão a entender que o desempenho dele é cem por cento. Sabe de uma coisa?

        – Sei. Você tem inveja dele.

        – Tenho. Pra que mentir? Meu primeiro casamento não deu certo, o segundo menos ainda. Então desisti, agora sou free-lancer. Mas com o Velho é diferente. Todos os casamentos funcionaram. 

        – Então, por que acabaram?

         – O Velho tem uma teoria que casamento não pode esfriar, vira rotina. Antes que isto aconteça, ele passa uma conversa manhosa na gatona – é especialista em gatonas – e o último episódio da novelinha é vivido sem choro nem briga. Um sábio.

         – Um mestre.

         – É como eu costumo chamá-lo. Ele responde que não tirou diploma e que todo mundo se for habilidoso, tira de letra. Tem dia que chego a me preocupar: “Mestre, olha essas coronárias!” Ele ri, não dá confiança em responder. “Mestre, não tem medo de negar fogo?” Aí então nem se dá ao trabalho de me olhar; faz que não ouviu. O Nuno, meu irmão mais velho – irmão de pai e mãe, do primeiro casamento -, fica besta de ver tanta resistência, e diz que o Velho não existe, que nosso pai é Energia Cósmica em pessoa.

        – E teus outros irmãos?

         – Os outros? Deixe ver... Somos quatorze irmãos, espalhados no mundo. Todos adoram o Velho, aliás o Nuno também. Falei quatorze, mas só Deus sabe quantos haverá por aí, desconhecidos da gente. Nem o Velho sabe.

        – Algum de vocês puxou a ele na vitalidade?

        – Uns fazem força, não creio que consigam. Esse negócio não comporta imitação. Ou bem que o cara nasceu com alegria de viver e gozar a vida, ou nasceu sem isso, e não tem vitamina que ajude. Claro que sempre há margem para performances individuais brilhantes, e o normal é a gente ser bem-sucedida – até certo ponto, o ponto X. Mas o Velho excede a marcação. Nunca vi ninguém tão identificado com o mundo, a mulher, as coisas agradáveis da vida. Sem contar vantagem – isso é importante. Não se vangloria de nada. Vive plenamente.

        – Quer dizer que ele dá nó até em pingo d’água?

        – Não faz outra coisa. Bem, vou indo. Nosso amigo Gerente ainda não se desenvencilhou daquele cara, e eu prefiro voltar depois.

         – Espera mais um pouco.

         – Não posso. Tenho de ir a um batizado.

         – Essa não!

        – O Velho está me esperando. Me escolheu para padrinho do seu rebento mais novo. Tenho um irmãozinho de dois meses, não te contei ainda? Ciao.

                                             

                                                                 

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Queres fazer parte desta iniciativa?

O Dia Mundial de Luta Contra a SIDA comemora-se no dia 1 de dezembro.
 
E para assinalar a data as publicações desta semana (aqui no blogue e na respetiva página no facebook)  terão um objetivo comum:  sensibilizar toda a comunidade escolar para a transmissão do HIV/SIDA.
 
Também gostaríamos de concretizar as seguintes  atividades propostas pela Unidade de Cuidados na Comunidade de Vila Real que mantém uma parceria com a nossa escola.
 
Se quiseres aderir a esta iniciativa, por favor, contacta os professores e enfermeiros que integram o Gabinete de Informação e Apoio ao aluno da ESCCB.
 
 

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Camilo e a Química: o Amor de perdição



«Na obra mais famosa de Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição (com o subtítulo história de uma família), escrita em cerca de quinze dias na cadeia da relação, não há referência directas à química, embora o romance seja considerando por vezes (especialmente por quem não o leu) como um paradigma da metáfora estafada da química do amor. Não é bem assim, quanto mais não fosse porque, paralelamente ao desenrolar do drama amoroso, o livro tem uma componente de romance de aventuras negro e ao mesmo tempo cómico e de crónica de costumes, mostrando com crueza as arbitrariedades das classes dominantes e as condições de vida do povo.

Também o drama amoroso do livro continua hoje em dia a ter, na minha opinião, bastante interesse. Em termos da tomada de consciência dos mecanismos químicos do amor e da atracção, as narrativas românticas vêm trazer algo de novo: a atracção amorosa é desenvolvida egocentricamente por aqueles que estão envolvidos nela, sem que esta seja provocada (aparentemente) por acções exteriores, poções, filtros ou manipulações de divindades.

Na Odisseia, Helena e Páris foram manipulados pelos deuses, sem que pudessem resistir. No Tristão e Isolda, o amor incondicional resulta de uma poção. Mesmo no Romeu e Julieta, que é por vezes comparado ao Amor de Perdição, a situação é ainda relativamente ambígua. Embora o amor de Romeu e Julieta não resulte das poções e filtros amorosos que encontramos em outras peças de Shakespeare, nem pareçam existir manipulações realizadas por divindades, Cupido é referido várias vezes. E o amor é comparado a um veneno irresisível para o qual não há tratamento. Depois dos clássicos e dos românticos, nos romances realistas e contemporâneos o amor aparece muitas vezes como resultado de circunstâncias e processos psicológicos, criando uma ilusão de verosimilhança.

Dos gregos antigos aos romances modernos, o amor não muda, mas vai mudanda a interpretação do que é a atracção amorosa. Actualmente, acreditamos que a química do cérebro e das hormonas substituiu os factores exteriores, o controlo por divindades e as poções. Continuamos, claro, a não ser totalmente livres, mas somos nós e as nossas circunstâncias que fazem a prisão em que ficamos.

A fixação amorosa de Teresa Albuquerque por Simão Botelho e deste por Teresa começaram, obviamente, como processos químicos cerebrais e hormonais. A manutenção de uma atracção amorosa duradoura entre as pessoas tem algumas semelhanças com a fixação instintiva das crias à mãe nos animais e do amor entre pais e filhos nos humanos. Para isso concorrem as hormonas ocitocina e vasopressina. Mas antes de chegar a essa fase, a atracção amorosa tem de passar por várias fases tumultuosas. Na adolescência surge o desejo por um parceiro amoroso provocado, nos homens, pela hormona testosterona, e, nas mulheres, pelo estrogénio. Depois, na presença de um parceiro desejável, a atracção, ou paixão, desenvolve-se com a ajuda dos neurotransmissores norepinefrina, feniletilamina, prolactiva e serotonina. Em particular a serotonina, hormona associada à depressão e aos mecanismos do vício, contribui para a fixação no ente amado, apresentando níveis tão baixos nos apaixonados que os aproxima dos doentes e viciados. Simão e Teresa são apresentados como muito desejáveis aos olhos um do outro, ele forte, belo e corajoso, ela bonita, elegante e delicada e simultaneamente também carentes.

Na ausência de vida social e contactos com outros jovens, um problema que a família de Teresa tenta resolver demasiado tarde, Teresa facilmente se apaixona por um rapaz galante, bonito e saudável, praticamente o único que vê como possível objecto amoroso. É também plausível que numa situação particular como a do romance, em que existe um grande desamparo e solidão de Teresa e Simão, por razões diversas (Teresa tem pais distantes e Simão acha que os pais não gostam dele), essa paixão evolua para um amor duradouro que resista a ser contrariado e leve os envolvidos a renunciar a tudo o resto. Também a fixação de Mariana se foi desenvolvendo, primeiro com a gratidão devida ao salvamento do pai, depois com a galhardia de Simão Botelho na fonte a bater nos criados e finalmente com a proximidade do jovem herói. Em termos da química amorosa não deixa de ser relevante a hesitação de Simão em relação à atitude a tomar em realção ao amor de Mariana.

Os mecanismos hormonais e a química do cérebro, que condicionam em boa parte as nossas sensações, sentimentos e atitude perante as circunstâncias, têm muitas falhas que reinterpretamos para dar sentido às nossas vidas. As tragédias são simultaneamente tão comuns quanto raras. Os bons livros apresentam-nos situações que não têm de ser vulgares, mas que nos interrogam e ajudam a encontrar sentido para a existência.»
 
 
 

Hoje oferecemos as palavras de Alexandre O'Neill


Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill (1924-1986), in 'No Reino da Dinamarca'

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Até lá, leitor amigo!


Fazendo um balanço da iniciativa “DEIXE UMA MENSAGEM PARA AS GERAÇÕES FUTURAS”, a organização considerou que esta contribuiu para a divulgação do Dia Mundial da Filosofia, espicaçando o espírito crítico de alunos, professores e funcionários da escola. As mensagens registadas no mural traduzem uma diversidade de pontos de vista. Nelas estão presentes o adolescente egocêntrico e apaixonado, o jovem irreverente e crítico, o adulto angustiado com o presente, o pessimista pela razão e o otimista pela vontade.

A escola congratula-se, também, pela colaboração à distância de ex-alunos que assumiram em pleno um sentimento de pertença à comunidade educativa, que nostalgicamente apelidam de Liceu.

E é já com “saudades do futuro” que se aguarda 2022. Até lá, leitor amigo!

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A Filosofia é irrecusável




"Pensa-se por vezes que se deve abandonar o pensamento filosófico enquanto não houver métodos científicos apropriados para investigar tais temas. Há nesta perspectiva dois aspectos que merecem reflexão. Em primeiro lugar, trata-se de uma ideia filosófica e não científica. Isto é, não se poderá provar num laboratório, ou através de um cálculo matemático, que devemos abandonar o pensamento filosófico. A filosofia é irrecusável porque mesmo para a recusar é necessário argumentar filosoficamente, o que é auto-refutante. Compare-se com a recusa da astrologia, que não exige que se argumente astrologicamente; e imagine-se quão ridículo seria um argumento contra a astrologia baseado num mapa astral. Pode-se recusar a reflexão filosófica sobre temas particulares, com argumentos filosóficos particulares que mostrem que tais temas são insusceptíveis de reflexão séria, mas não se pode recusar a filosofia em bloco sem usar argumentos filosóficos, o que acarreta uma contradição óbvia. A filosofia é apenas o exercício da capacidade para o pensamento crítico sobre qualquer tema susceptível de ser pensado sistematicamente, mas insusceptível de tratamento científico. E saber que temas são susceptíveis de serem pensados sistematicamente já é um problema filosófico."
 
Desidério Murcho
Excerto retirado do capítulo "O Tempo e a Filosofia", incluído no livro Tempo e Ciência, org. por Rui Fausto e Rita Marmoto (Lisboa: Gradiva, 2006).
 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Momentos...

«Sentado em frente ao mar, levanto os olhos para continuar a ler. As palavras rompem como palavras de água. O mundo faz-se gota a gota, no infinito de um oceano em que os barcos traçam caminhos, sulcos, traços marítimos e inscrições de alto mar. Estranha emoção a de ficar transparente às palavras que parece reforçam a minha transparência. Toda a leitura nos faz crianças e nos constrói na energia da areia. […] Existem sempre momentos que justificam todo o trabalho da escrita, toda a magia da leitura, toda a conjura das palavras.»

                                                                                                           Eduardo Prado Coelho

Deixa uma mensagem para as gerações futuras


Amanhã, dia 15 de novembro, é, de acordo com a UNESCO, o Dia Mundial da Filosofia.

Este ano a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) convida-nos a deixar uma mensagem ou um objeto para as gerações futuras numa cápsula do tempo que será aberta, na sede daquela instituição, em Paris, decorridos 50 anos.

A Camilo, inspirada no desafio da UNESCO e entendendo que a melhor forma de celebrar a Filosofia é filosofando, decidiu construir um mural intitulado “DEIXA UMA MENSAGEM PARA AS GERAÇÕES FUTURAS”.

Assim, amanhã todos serão convidados a construir este mural com pensamentos, citações, máximas de vida, poemas, desenhos, fotos, objetos e tudo mais que a imaginação ditar…

Posteriormente, todas as mensagens serão reunidas numa caixa que, depois de selada, será guardada na biblioteca da nossa escola e aberta em 2022, na terceira quinta-feira do mês de novembro.

E porquê  10 anos? Em primeiro lugar, porque a perspetiva de esperar 50 anos não agradou aos mais céticos em relação à longevidade humana; em segundo lugar, porque, na nossa opinião, é o tempo suficiente para avaliar a atitude filosófica dos alunos, professores e funcionários do ano de 2012.

Se todos os seres humanos são naturalmente filósofos, filosofemos então.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Uma cápsula do tempo para assinalar o Dia Internacional da Filosofia

Em 2002, a UNESCO institui a celebração do Dia Internacional da Filosofia na terceira quinta-feira do mês de novembro de cada ano, certamente porque reconheceu a importância do questionamento filosófico na vida do ser humano.

Este ano, no dia 15 de novembro, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) vai enterrar uma cápsula do tempo na sua sede, em Paris, para ser aberta 50 anos depois, em 2062.

 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Parabéns, Sofia!

 
Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu na cidade do Porto, em 1919, viveu em Lisboa, onde estudou e tirou o curso de Filologia Clássica e faleceu no dia 2 de Julho de 2004.

Sophia de Mello Breyner Andresen é considerada uma das poetisas e escritoras mais importantes da Literatura Portuguesa.

 
Sophia de Mello Breyner (1919-2004)

"Se"

Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O Monge das mãos suadas

Aqui fica mais um excerto do livro “Cada um vê o que quer… num molho de couves”.


«Termino com uma lenda oriental intitulada “O Monge das mãos suadas” de que gosto muito: “Kasan, um professor e monge zen, ia celebrar um serviço religioso num funeral de um nobre famoso. Enquanto esperava que o governador da província e os outros nobres chegassem, reparou que tinha as palmas das mãos suadas. No dia seguinte, reuniu os seus discípulos e confessou que ainda não estava pronto para ser um verdadeiro mestre. A explicação que lhes deu foi que ainda lhe faltava comportar-se da mesma forma com todos os seres humanos, fossem eles mendigos ou reis. Ainda não era capaz de ver para além dos papéis sociais e das identidades conceptuais e encontrar sempre as semelhanças inerentes a todos os seres humanos.”

domingo, 4 de novembro de 2012

Sugestão de leitura do mês de novembro

“Cada um vê o que quer… num molho de couves” de Isabel Abecassis Empis é a sugestão de leitura do mês de novembro.

Neste livro a psicóloga clínica questiona o percurso tradicional da terapêutica psicanalítica e propõe uma nova abordagem da comunicação entre terapeuta e paciente.

Aqui fica um excerto que poderá entusiasmar os nossos leitores:

«Esta coisa da tristeza versus depressão faz-me pensar numa criança que nunca esquecerei. Uma menina de sete anos é-me trazida pela mãe a conselho da professora. Dizia esta que a criança era muito reservada, pouco participativa, mas extraordinariamente atenta. No entanto, quando os colegas tinham um conflito uns com os outros, aí era ela que ocorria a consertar as coisas entre os “zangados” e a repor a harmonia. Notava a professora que esta situação se repetia com alguma frequência e que era estranho porque aí a Sofia saía da sua reserva e falava assertivamente, com autoridade, com ambas as partes, acabando com a adversidade. Foi então informada de que a iam levar a uma psicóloga por ser demasiado calada e por a mãe e a professora se interrogarem se ela estaria preocupada ou triste com alguma coisa. Conta-me a mãe que, ao sair do banho, na véspera da consulta, fitando-a com um sorriso tranquilo e uma voz calma lhe disse: “Mãe, não me tirem a minha tristeza; eu preciso dela.”

Lembro-me bem da cara da Sofia, embora não tenha voltado a vê-la: olhar profundo e atento numa pele escura, com um enorme e doce sorriso tranquilo. Penso ter percebido o que a Sofia queria dizer. A sua capacidade de sentir as coisas era-lhe precisa. Não queria que lha tirassem era por aí que se realizava e agia naquilo que era o seu pelouro. Se os adultos precisavam de chamar àquilo tristeza, tudo bem… Mas, “por favor”, não me tirem o que é o meu “enriquecimento” – era, na realidade, o que ela estava a pedir.»